28 abril, 2010

O free Thurston Moore

Para quem se interessa pelas correntes free-noise-rock nem sempre é muito explícita a promiscuidade por trás desses gêneros. Se pensarmos em muitos ícones do rock mais visceral e inventivo teremos uma noção mais clara sobre a representatividade do jazz livre em sua estrutura. A questão não é especular quem influenciou quem, mas tentar compreender que há elos vitais entre os sons de um lado e de outro (mesmo que a massa de fãs, um pedaço em cada ponta, prefira ignorar o que se passa no outro extremo). Passamos pelos que dizem admirar o gênero, como Iggy Pop: “Coltrane me deixa louco. E tinha também caras como Albert Ayler. Tudo isso dava voltas ao nosso redor”; pelos que admitem certa influência, como Wayne Kramer, do MC5: “estávamos tentando seguir o rumo apontado por Sun Ra, Ayler, Coltrane, Pharoah Sanders e Archie Shepp. Essa era a música que nos inspirava”; e mesmo os que chamaram free jazzistas para alguma gravação, como Lou Reed, que convocou o trompetista Don Cherry para tocar em “The Bells”.

Talvez muitos fãs do Sonic Youth já tenham se atentado ao fato de Thurston Moore sempre falar em entrevistas sobre free jazz e livre improvisação. E o envolvimento de Moore é muito mais intenso do que o de um simples interessado no gênero: o cara já tocou e gravou com figuras como Evan Parker, Derek Bailey, William Hooker e Mats Gustafsson. Para ouvidos atentos e mais informados, não é difícil entender de onde vem as longas sequências de improvisação-noise presentes em muitas músicas do Sonic Youth: Pipeline/Kill Time, Total Trash, The Diamond Sea... Homenagens e participações também estão lá (mas acabam muitas vezes por passar despercebidas). Títulos como "Karen Koltrane" e "Mariah Carey [Kim Gordon] & The Arthur Doyle Hand Cream" ou a participação dos saxofonistas Don Dietrich e Jim Sauter, do Borbetomagus (uma das primeiras bandas free improvisation-noise)em "Radical Adults Lick Godhead Style". (ps: o saxofonista Arthur Doyle é um dos grandes nomes ignorados e esquecidos do free jazz mais underground, sendo sempre citado por Thurston Moore.)

Um dos mais presentes parceiros de Moore é o saxofonista sueco Mats Gustafsson. (Moore, Gustafsson e Jim O’Rourke (produtor de alguns álbuns do Sonic) tem um grupo, no melhor esquema free form, o Diskaholics Anonymous Trio).
De sua parte, Gustafsson se proclama devedor do rock garage sueco e, com sua banda The Thing, uma das melhores surpresas dos últimos anos, tem explorado, em releituras free-instrumentais perturbadas, músicas de figuras como PJ Harvey, Yeah Yeah Yeahs, The Sonics e White Stripes.
Para quem nunca viu, Thurston Moore e Mats Gustafsson em ação:

10 Comments:

At 28.4.10, Blogger Unknown said...

Já vi este saxofonista ao vivo e é verdadeiramente fantástico!

 
At 28.4.10, Blogger Pedro Teixeira said...

Provavelmente não há no mundo da Música alguém que admire mais que o Thurston Moore... É previsível, sendo os SY uma (senão "a") bandas mais importantes da minha vida. E embora eu também admire imenso o Lee Ranaldo e nem goste de os "separar"... Epá, não basta o Thurston ser o que é como músico, que todos provavelmente reconhecerão, como também é uma autêntica enciclopédia. É impressionante, ele parece conhecer tudo. Quantas nomes já não descobri através de entrevistas ou outro tipo de referências... Nem é preciso ir muito longe, acho que o meu interesse pelos Stooges (que ouço neste momento) surgiu através da veneração que ele nutre pelos mesmos. Um Senhor! Obrigado pelo vídeo.

 
At 28.4.10, Blogger Unknown said...

Não sei se sabem que o Thurston tem um blog - http://flowersandcream.blogspot.com/

 
At 29.4.10, Blogger ::Andre:: said...

Sim Victor, já foi noticiado e inclusive está nos links ali ao lado :)

Fabricio, conheces os Original Silence? Moore, Mats, Paal Love, O'Rourke...conheces? Poderiam ser os Last Exit do século XXI.

 
At 29.4.10, Blogger ::Andre:: said...

O convite ao Manuel Mota (espreita-o Fabricio) para abrir SY não é por acaso. O Moore peca é por não subir ao palco e apresentar-lhe ao público. Foi uma falta de respeito ver toda a gente a conversar enquanto ele tocava. Tarefa ingrata.

 
At 29.4.10, Anonymous Anónimo said...

Conversar? Tinha sido simpático se se limitassem a conversar! Estavam literalmente a manda-lo embora. E um gajo atrás de mim a dizer "Mas ele já começou a tocar ou ainda está a afinar as cordas?"

 
At 29.4.10, Blogger Fabricio Vieira said...

Conheço o Manuel Mota de videos no youtube: ele tem álbuns gravados? tem circulado pela Europa? E não me surpreende a reação que contam que houve no show do SY: nos comentários de um vídeo de Manuel no youtube há coisas do tipo: "foda-se, grande merda,ainda bem que chegei atrasado para o concerto dos sonic"; "não percebo como é que chamam a isto guitarrista" e "Não faço a mínima ideia de como te convenceste que tinhas jeito para musica? (musica????) Porque não te dedicas à pesca?"

Salvo se esses comentários foram feitos por jovens de 15 anos, demonstram apenas que esses 'fãs' do SY desconhecem completamente o que representa a música para Moore e cia. Basta eles verem esse vídeo que postei do Moore e do Mats para torcerem o nariz...

Aqui no Brasil, onde o SY tocou no ano passado, isso não ocorreu: simplesmente porque os produtores são ainda mais mal informados que o público e colocaram alguma bandinha de rock básico para abrir o SY... uma pena...

 
At 29.4.10, Blogger Dromos said...

fabricio,o manuel mota tem montes de albums gravados.

espreita a editora dele,a Headlights onde estão a maioria dos discos dele.

http://www.myspace.com/headlightsrecordings

editou tambem por nós a uns meses um duo com o afonso simões na bateria.
http://dromosrecords.blogspot.com/2010/02/dromos002-manuel-mota-afonso-simoes-ao.html

 
At 29.4.10, Blogger Fabricio Vieira said...

muito bom saber! obrigado pelas informações.
e vcs costumam enviar para fora de Portugal (mais especificamente, Brasil)?

 
At 30.4.10, Blogger Dromos said...

enviamos para o Brasil sim.

 

Enviar um comentário

<< Home