31 março, 2011

Se algum dia a Amplificasom organizar um festival

Sugiro que adopte a tagline "Sun, Sea and Sludge"

Pseudo-Artigo

Abstract: Debruçamo-nos neste trabalho sobre o estudo de bandas de heavy-metal como exemplos de empreendedorismo criativo e cultural, caracterizando-as através do framework de empresas Born-Global: empresas jovens, pequenas, e que se internacionalizam rapidamente após a sua criação. Concentrar-nos-emos mais especificamente nas opções que tomam em termos de coordenação de gestão e práticas negociais, sugerindo que estas bandas/empresas diferem entre si no que diz respeito a quatro áreas principais de actuação - gestão, marketing, distribuição, touring - e distinguindo abordagens gerais de gestão orientadas para o negócio e orientadas para o artista.


1. Introdução
O empreendedorismo criativo e exportação cultural são fenómenos interessantes em vários domínios - moda, cinema, música, design, etc. - especialmente em economias pequenas e abertas como o caso português. Tem-se observado um considerável potencial de crescimento nas indústrias criativas, apesar de a exportação musical estar ainda pouco estudada nos meios académicos e fornecer um cenário interessante para vários estudos e disciplinas.

2. Objectivos e metodologia
Este estudo é parte integrante de um projecto de pesquisa que investiga as estruturas e práticas de exportação e globalização de bandas de heavy-metal, tendo como objectivo a identificação de abordagens genéricas à exportação cultural (com particular incidência sobre a música), das práticas de management de grupos musicais, e da coordenação das actividades de exportação em torno da oferta criativa. Duas bandas foram estudadas através de uma abordagem de case-studies qualitativos, equiparando-se estas a "empresas" dentro do framework de exportação cultural; com a abordagem qualitativa que potenciam, e a recolha de dados em cenários transfronteiriços e interculturais, o estudo de case-studies adequa-se particularmente aos nossos objectivos exploratórios e descritivos, sendo um método privilegiado de análise em qualquer currículo académico na área de Gestão e Economia.

3. Empreendimentos Born-Global como base teórica
As "Born-Global" (BG) são empresas jovens e pequenas que muito cedo internacionalizam o seu negócio, e que na generalidade provém de economias pequenas e abertas (SMOPEC), tais como Portugal, Finlândia, Nova Zelândia, etc. O estudo de BG no campo da gestão empresarial data do início dos anos 90. Estas possuem um maior peso na competitividade deste tipo de países do que em grandes economias, reflectindo assim o domínio dos factores push (dimensão, abertura e localização) na sua resolução em globalizar-se; a dimensão de um mercado SMOPEC é, quase sem excepção, maior no mercado global do que perto de casa (uma força de pull), e países como a Suécia, com 8 milhões de habitantes, e a Finlândia, com apenas 5 milhões, são exemplos clássicos de exportadores intensivos de heavy-metal, dado que, devido à pequena dimensão dos seus mercados internos, uma internacionalização fácil e rápida dos seus grupos musicais é a única forma de eficazmente escalar o seu negócio, e, assim, sobreviver.

A escolha desta abordagem teórica é justificada por este tipo de bandas cumprirem os requisitos principais de empresas Born-Global (BG): oferecem produtos com potencial de mercantilização global, combinam esse potencial com uma capacidade empreendedora na busca de métodos de internacionalização acelerada, têm uma visão global, e são empresas independentes. Dependem única e tacitamente do seu know-how para sustentar a sua vantagem competitiva, os seus elementos muitas vezes custeiam o desenvolvimento de produtos com fundos próprios ainda antes de efectuarem as primeiras vendas, constroem redes de larga escala com parceiros de negócios, usam a Internet como um canal de marketing, e, muitas vezes, usam Empresas Multinacionais (MNE) para distribuir e licenciar os seus produtos.

A contribuição deste estudo é dupla pois contribuirá para o desenvolvimento de um framework inicial para o estudo de formas eficazes no acesso a mercados internacionais de música, e, para além disso, acrescer à compreensão das similitudes e diferenças na gestão e coordenação de actividades de indústrias culturais Born-Global.

4. Características de Born-Global na indústria musical
As BG têm diversas características que as distinguem de outras organizações. Neste capítulo, analisam-se estas características analisando a sua adequação aos nossos casos de estudo, identificando-se quatro categorias principais.

Primeiro, são empresas geralmente pequenas em tamanho e jovens em idade. Estes factores proporcionam-lhes uma adequada flexibilidade interna, se bem que, no entanto, muitas vezes causam também dependência financeira e, portanto, desafios. É um dado comum bandas de heavy-metal serem originalmente estabelecidas por amigos ou conhecidos e, mais tarde, avançarem para uma fase mais séria atingindo o mainstream.

Em segundo lugar, as BG lidam geralmente com produtos inovadores voltados para nichos de mercado. As rápidas mudanças na procura originam uma necessidade por produtos personalizados, os quais, por sua vez, criam estes pequenos mercados onde podem ser alcançadas economias de escala através da venda directa a consumidores individuais e retalhistas de pequena dimensão. As BG têm a vantagem sobre grandes empresas que muitas vezes não são capazes de se adaptar rapidamente a novas exigências dos mercados internacionais. O heavy-metal, apesar de sua popularidade actual, é uma categoria altamente internacional e fragmentada da música, onde nichos globais são muitas vezes criados a partir de rótulos nacionais específicos, como "New Wave of British Heavy Metal", "Bay Area Thrash Metal", "Norwegian Black Metal" e "Swedish Death Metal". Observamos no nosso estudo que tanto os ABC como os XYZ atingiram em grande medida a popularidade por terem conseguido desenvolver conceitos inovadores e dinâmicos dentro deste tipo de sonoridades.

Em terceiro lugar, a distância física em relação aos mercados alvo não é um factor negativo para BG, pois na verdade elas tendem a especializar-se na pesquisa e exploração de redes de cooperação internacionais, trabalhando através de uma combinação de canais, empresas e parceiros de negócio diversificados, e fazendo o outsourcing de competências fora do seu know-how base. Diferenciando-se de redes especificamente nacionais, as BG estabelecem contactos transfronteiriços e fazem uma virtude da falta de rotinas fixas e da capacidade de adaptação das suas estratégias de internacionalização às necessidades pontuais do mercado. Ambos os casos de estudo construíram redes internacionais de parcerias e distribuição com configurações específicas que lhes permitiram fortalecer a respectiva liberdade artística do seu conceito musical.

Em quarto lugar, o núcleo de competências de empresas BG, neste caso particular, grupos musicais, é sempre o desenvolvimento do produto, a criação e execução de música, pelo que frequentemente usam MNE (Universal Music Group, Sony Music, etc), como integradoras de sistemas ou clientes para a distribuição ou licenciamento global dos seus produtos e serviços. As suas receitas correntes principais provêm de gravações (royalties), merchandise e tournées, pelo que podem fazer o outsourcing do management, booking, manufactura e distribuição de produtos (físicos e digitais) para agentes especializados em todo o mundo. Muitas bandas são também patrocinadas por fabricantes de instrumentos e equipamentos.

5. Práticas de exportação de ABC e XYZ
Concentrar-nos-emos em seguida nas características das duas bandas em análise, ABC e XYZ, interpretando os aspectos que lhes permitiram competir contra a concorrência nos mercados internacionais, e, mais especificamente, mapeamos os mecanismos de coordenação relativos às práticas de gestão e negócio destas companhias.

Ambas as empresas em estudo têm produtos exclusivos baseados num alto nível de talento musical em termos de composição e habilidade técnica, usufruindo de total liberdade artística. Ambas as bandas criaram um conceito original que era uma novidade para o sector no momento da sua estreia, e este, sugestivamente, foi um importante factor do seu sucesso. Ambas as empresas criaram redes de cooperação e utilizam recursos externos na fabricação e/ou distribuição, o que lhes permitiu a respectiva globalização independentemente dos seus recursos limitados.
Constata-se no entanto que os métodos pelos quais elas formaram estas redes são significativamente diferentes, facto que se reflecte no processar das operações comerciais desses grupos. Existem diferenças em termos de management, organização de digressões, bem como nas práticas de comercialização e distribuição, que serão discutidas, respectivamente, neste capítulo. Para descrever e comparar estas duas empresas, discorre-se acerca das suas biografias, inserindo as suas formas específicas de internacionalização para, posteriormente, serem comparadas.

5.1 Descrição das duas empresas-caso
Os ABC formaram-se em 1993 em Freixo de Espada à Cinta, por António José (guitarra e vocais) e Josefino Maria (bateria). No final de 1996 a banda assinou um contrato de três álbuns com a Discossete, dando o seu primeiro espectáculo fora de Portugal em 2000. Estavam prestes a ser distribuídos nos EUA pela Estouro Nuclear em 2000 quando esta faliu, e, consequentemente, a sua entrada neste mercado sofreu um atraso, não se concretizando até 2003 quando a Media Século licenciou o seu quarto álbum “Batata Frita e Peixe-espada”. Os álbuns seguintes foram lançados pela Marisco Records, uma filial da Universal (que tem um contrato de gravação mundial com a banda). Até agora os ABC venderam 500 mil álbuns mundialmente, sendo que o virtuosismo de António José tem sido reconhecido nos meios musicais, levando à sua consagração na revista Mundo do Ukelele como o mais promissor jovem guitarrista de 2010.

Os XYZ foram fundados por Sófocles Aristóteles (teclados), na Arroteia em 1997. Logo depois de gravarem a sua primeira demo, a Discossete (a mesma empresa que assinou os ABC), lançou o primeiro longa-duração “Avé Maria cheia de Desgraça” (1997). No Outono de 2001, Avô Cantigas deixou a Discossete e começou a trabalhar como manager dos XYZ. Aí estes eram já uma banda estabelecida nos mercados europeus, sendo que em 2001-2002 mais de 150000 pessoas viram a "XYZ World Tour of the Alphabet". No mesmo ano, os XYZ assinaram um novo contrato de gravação nos EUA com a Papa-Léguas Records - os seus álbuns anteriores tinham sido licenciados nos EUA pela Media Século. Os XYZ não têm um contrato global com nenhuma discográfica, usando assim editoras diferentes em mercados diferentes. Para o seu quinto álbum, “Sacristia” (2004), os XYZ usaram uma orquestra real que custearam com fundos próprios, atingindo assim o topo das tabelas europeias, algo que uma banda portuguesa nunca tinha conseguido até então.

5.2 Práticas de management
Em termos de abordagens de gestão genéricas, estes dois casos envolvem práticas bastante diferentes para a Europa. Desde 2007 que os ABC usam uma empresa de management independente, especializada em mercados europeus e os XYZ, por sua vez, utilizam uma equipa de management global que gere as relações com managers locais subcontratados.
Mais detalhadamente, os ABC são geridos na Europa pela empresa alemã Giggety-Goo GmbH, uma sociedade que gere a carreira de outras 6 bandas e é booker de outros 17 artistas. Nos EUA, os ABC associaram-se a uma empresa diferente, a Pupu Inc., que tem 16 clientes. A banda mantém reuniões oficiais com ambos os managers regularmente, mas a relação entre banda e gestores é puramente profissional. Em suma, os ABC estão à cabeça de duas redes diferentes, uma na Europa e outra nos EUA.

Em contraste com os ABC, os XYZ são geridos por um único management, a Cholé Entertainment, com quem a banda interage de perto, com uma postura mais baseada na amizade do que profissional. Tal como os XYZ, a Cholé é uma empresa portuguesa. O gerente era já amigo íntimo dos membros da banda antes de se tornar no seu manager oficial. A Cholé, por razões legais, formou mais tarde uma subsidiária nos EUA, contudo ainda são as mesmas pessoas que lidam com toda a gestão globalmente. Estas seguem a banda a todos os seus eventos, o que não é típico no caso dos ABC, existindo relações muito pessoais e individuais com cada um dos membros da banda. Assim, tanto o managing como o networking dos XYZ assumem um carácter integrado e uma rede social íntima. A relação dos artistas com o seu manager não está claramente definida, mas amalgamada numa base ad hoc (pelo menos em interacções sociais sobre assuntos não-profissionais).

5.3 Digressões
As digressões são a actividade de marketing mais importante no campo do heavy-metal. As vendas de álbuns normalmente aumentam significativamente após cada tournée. Enquanto na Europa as distâncias entre concertos são relativamente curtas, os EUA, por exemplo, são um mercado desafiador pois as distâncias geográficas são muito acentuadas, e é muitas vezes impossível cobrir todas as cidades importantes, mesmo com uma digressão de seis ou sete semanas. Os concertos são organizados e agenciados por elementos locais. Os ABC começaram a sua primeira digressão pelos EUA após o lançamento do seu quarto álbum em 2003, sendo que a sua primeira tour como cabeça de cartaz ocorreu em 2005. A banda acompanhou outras bandas de heavy-metal, incluindo alguns nomes maiores como Matador, Megamorte e Cordeiro de Deus. Este tipo de associação é sempre um risco financeiro e, portanto, considerado um investimento para o futuro: a banda raras vezes é ressarcida pelo seu trabalho mas a exposição que recebe (provinda de um público maior), pode aumentar as vendas drasticamente e, consequentemente, compensar a longo prazo. Nos EUA, os ABC são clientes de uma grande agência de booking com mais de 1.000 artistas e 50 agentes. Diferindo dos ABC, os XYZ usam um agente independente para os EUA, João Ratão, que é também parceiro da Cholé Entertainment, a empresa de management dos XYZ para os EUA. Devido à fragilidade da voz do seu vocalista, os XYZ fizeram menos digressões do que os ABC. A banda fez a sua primeira visita aos EUA em 2003, e, depois, viajou outras quatro vezes para tournées de duas a cinco semanas, todas elas com um aumento progressivo na afluência; estas digressões tiveram sempre bandas de suporte, mas também elas clientes da Cholé Entertainment (divisão portuguesa).

5.4 Marketing e práticas de distribuição
Os ABC foram introduzidos no mercado americano pela Media Século, que se interessou na banda após o lançamento do seu quarto álbum. Tinham um contrato mundial com a Universal através da Discossete (propriedade da Universal), mas a Universal não estava naquele momento interessada em editar essa gravação nos EUA; a Media Século fez então um contrato de licenciamento com a Universal e o álbum foi lançado e distribuído nos EUA; estes organizaram ainda tournées para os ABC e investiram no marketing local da banda. Esta foi bem aceite pelo público americano e a Universal lançou assim o álbum seguinte através da distribuidora Marisco Records, uma empresa independente de distribuição detida pela Universal. A Marisco trabalha também em estreita colaboração com a Discossete e a PSE (marca que fabrica as guitarras usadas pela banda), e na criação de campanhas de marketing para, por exemplo, Amazon e iTunes.

Os XYZ foram licenciados nos mercados americanos logo após o lançamento de seu primeiro álbum pela Media Século, e são hoje aí distribuídos pela Papa-Léguas Records, a sua discográfica nos EUA. Os quatro primeiros álbuns são licenciados nesse país através da Marisco Records, que é a editora dos ABC nos EUA. De acordo com um representante da Papa-Léguas, a execução de digressões e a exposição na imprensa são os únicos métodos sensatos de marketing de bandas estrangeiras em mercados americanos. A Papa-Léguas é uma discográfica global, mas distribuem os XYZ só os EUA e Austrália. Como os XYZ não viajaram ainda muito através dos EUA, não têm explorado plenamente o seu potencial nesse mercado.

6. Conclusões
Assim, as abordagens de ABC e XZY em relação ao management, digressões, comercialização e distribuição diferem notavelmente. Com base destas diferenças, propomos o reconhecimento de duas estratégias alternativas; uma orientada para o negócio (ABC), e outra para o artista (XYZ). A rápida internacionalização do ABC foi "estritamente profissional", voltada para o negócio, ao passo que a internacionalização do XYZ, tem sido mais "social", ou voltada para o artista. Ambas as bandas entraram em mercados desafiantes e conseguiram neles criar redes funcionais de empresas e indivíduos. Sugere-se, portanto, que ambas as estratégias, quando bem implementadas, podem levar ao sucesso.

Através dos casos de duas bandas de heavy-metal portuguesas o trabalho apresentou
uma aplicação da teoria de empresas "nascidas globais". Este estudo arranhou apenas a superfície desta problemática, e uma investigação mais profunda é necessária para construir um bom contributo para o estudo deste fenómeno emergente. Não obstante, o nosso estudo inicial mostra que os modelos de negócios a aplicar às indústrias criativas devem apoiar as suas características únicas, e que as parcerias entre músicos/empreendedores culturais e outros profissionais são uma fonte de vantagem competitiva sustentada.

30 março, 2011

Rapidinhas

Boris - New Album [Tearbridge 2011]

É isto que me agrada nos Boris, não saber o que esperar antes de pôr um novo disco a tocar. É o 15º, diz-se por aí, mas creio que nem eles o poderão confirmar. Desta vez, viraram-se para o J-Pop e para os oitentas e setentas sempre com aquele brilhinho e exotismo que já é imagem de marca há muito tempo. Não têm medo de arriscar, rockam como nenhuma outra e aposto que também não se levam muito a sério. Ligam os orange e está um novo álbum feito. Excelente, diga-se.

Gil Scott-Heron and Jamie XX - We're New Here [XL Recordings 2011]

Tentei. Perdi tempo, mas tentei. A banda dos dois xis nada me diz, mas quando se fala de Heron é obrigatório, tinha que o ouvir. Não creio que tenha sido arrogância por parte de Jamie XX, mas quando se tem um álbum tão perfeito como foi o regresso do mestre Gil, qualquer reinterpretação é inútil. Esta pelo menos foi.

Josh T. Pearson - Last Of The Country Gentlemen [Mute 2011]

Vocês lembram-se dos Lift to Experience? Devem ter passado uns 10 anos daquele duplo e intenso apocalipse. Desta vez o apocalipse é pessoal e intimista. Josh Pearson, o líder, continua com o seu fardo e sempre agarrado ao velho testamento. Acredito que o disco possa ser mais terapêutico para ele do que para quem ouve ou não fossem os seus temas, pelo menos desde que o conheço, um reflexo de quem parece ter sempre o pior dia possível.

Process of Guilt - The Circle [Bleak Recordings 2011]

Foi com The Circle que os PoG encerraram o enorme Erosion e é esse mesmo tema que dá origem a este fértil EP de reinterpretações. Rodearam-se de outros talentos como Sanford Marker, por exemplo, e o resultado é um misto de satisfação e ansiedade pela série de possibilidades sobre o que será o próximo disco. Actualmente são umas das melhores bandas portuguesas da actualidade cujo potencial nunca duvidei. Que o terceiro álbum seja o click para o reconhecimento devido… e merecido!

The Strokes - Angles [RCA 2011]

Não sou o maior fã, nunca fui, mas vou estando atento aqui e acolá. Pelos vistos, o fim esteve iminente, pelos vistos dão entrevistas em separado e mandam recados uns aos outros pela imprensa. Pelos vistos. Não contabilizo os álbuns a solo pois não os ouvi, mas será que este ambiente se reflecte na música da banda? Assuma-se: Angles é fraco, tão fraco que voltamos a fazer play perguntando-nos se estamos a falar dos mesmos Strokes. Ok pronto, não é assim tão mau mas há hiatus que deviam durar mais tempo.

Thomas Hooper

Well... I'll leave the same way I got in here. With tattoos.
Is anyone bigger than Thomas Hooper? Doubt it.











29 março, 2011

Fotografia de Michael Levin







As escolas e a criatividade

Vinte minutos excelentemente passados para quem se interessar pela criatividade e a forma como esta é/deve ser encarada...

As Tristezas da Lua

O meu primeiro contacto com um poema de Baudelaire passou-me despercebido. Isto é, o que me passou despercebido foi o facto de aquilo ser um poema de Baudelaire, porque o veículo que propiciou esse contacto não passou nada despercebido. Foi através de um tema intitulado “Tristesses de la Lune” que fazia parte do álbum “Into the Pandemonium” dos Celtic Frost.
Ainda hoje me fascina como é que um grupo de metal, em 1987, lançou aquela faixa nada vulgar para a época. Os Celtic Frost foram bastante criticados por esse álbum, não por causa do tema que eu mencionei, mas pelo facto de abrirem logo o álbum com uma cover de um grupo new-wave - “Mexican Radio” dos Wall of Voodoo. Esse álbum, no entanto, ainda hoje ocupa um lugar bem mais especial que o “Morbid Tales”, para mim, claro está.
Com o passar dos anos, e o meu crescente interesse na poesia, uma pessoa bem próxima de mim falou-me n'”As Flores do Mal” e eu acabei por comprar um exemplar do livro em questão. E que livro! Dos livros de poesia que possuo, deve ser aquele que reli mais vezes e, qual não foi a minha surpresa na altura, quando, a páginas tantas, descubro um poema intitulado “Tristesses de la Lune” que era exactamente a “letra” da faixa do mesmo nome do “Into the Pandemonium”.
Entretanto, entre a faixa de Celtic Frost e a compra do livro, tinha descoberto mais uma adaptação do Baudelaire à música, mas nessa altura já sabia de quem era a autoria do texto – estou-me a referir ao “Les Litanies de Satan” da Diamanda Galas – e foi já em “vésperas” de adquirir o livro.
Com o tempo, “As Flores do Mal” tornaram-se no livro em que mais poemas tenho marcados e acabo sempre por voltar a pegar no bouquet ao fim de algum tempo.

Daqui Ali - Texto Dois [A Polícia de Novska]

(Nota: O Pedro, por estar algures entre o Iraque e o Irão, não consegue aceder ao Blogger, portanto serei eu a colocar o texto que ele me enviou por mail.)

Para quem quer seguir o resto dos textos do rapaz, clica aqui. Para quem se quer amigar da sua página, que clike aqui pois toda a gente sabe que os verdadeiros amigos são aqueles que um gajo não conhece de lado nenhum

Quando um gajo dá por ela es está numa esquadra da polícia, numa terra de cujo nome não fazemos a mínima ideia, no meio da Croácia, é natural que pensar que algo vai errado. Certo? Errado. Bem, mais ou menos errado, parcialmente certo...

Foi o que me aconteceu no dia 14 de Fevereiro, numa dia frio, muito frio... tão frio que é este elemento climático parcialmente culpado das nossas andanças policiais.

Acordámos em Zagreb com Belgrado na cabeça. Ia ser tranquilo chegar lá, certo? Errado. Caminhámos um bom pedaço até à estação de autocarros e íamos apanhar um autocarrito para fora da cidade, ficando ali mesmo à entrada da autoestrada. Cada um munido do seu papel a dizer “Belgrado” plantámo-nos na zona onde se tira o talãozito para seguir viagem. Assim os carros tinham mesmo de parar, viam o nosso fácis esbelto e com cara de quem toma banho e é bom rapaz, e davam-nos boleia tranquilamente. Curiosamente, quem sabe por isso mesmo (por terem oportunidade de ver a nossa tromba), as boleias escassevam, e um gajo teve de baixar as expectativas e pedir para nos levarem até à próxima estação de serviço, em vez de direitinhos para Belgrado. E mesmo assim não foi fácil! Quer dizer... um gajo habitua-se mal num instante, uma das maldições da nossa condição tão humana. Por isso quando esperávamos mais de meia hora já era um “ai senhor”. Foi mais ou menos isso que esperámos, uma hora, no máximo, até que nos levaram à primeira estação de serviço. Que não era agradável nem a tiro. Estava um frio de rachar, ora chuvia, ora não chuvia, e os poucos carros que passavam não estavam muito p’raí virados.

Tentámos o nosso habitual truque daquilo que denominamos a boleia organizada, onde fica um nas bombas e outro na área de descanso, mas nada. Nada mesmo. E frio.Frio mesmo! E aí está a culpa do méne, o frio! É que aquilo estava a desmoralizar um gajo!

- Olha, ‘tá ali uma vila, depois deste campo... e se fôssemos até lá ver como param as modas? – perguntou um de nós. O outro acedeu, para bem dos nossos pecados. Caminhámos entre a lama, vimos seis ou sete veados a correr todos divertidos, atravessamos um riacho com uma ponte improvisado, e de repente estamos numa vila composta por uma estrada e casas de tijolo ao redor. Inspeccionamos uns estábulos onde podíamos eventualmente passar a noite, à medida que progredíamos. A noite ia-se abatendo – culpa nossa, por não ter deixado Zagreb mais cedo. Caminhávamos para trás e para a frente e não havia nada senão essas casas e uma igreja. A dada altura, obedecendo a um estereótipo estúpido mas que se confirmou, decidi bater à porta da única casa moderna, com carros modernos, achando que devido a estas condições, falariam inglês. é estúpido, eu sei, mas um gajo nestas alturas tem de se safar dê por onde der. É certo que a senhora falava inglês, mas quando eu lhe pedi para passarmos lá a noite ela disse que não ia dar, porque estava sozinha. Ok, sem problema. A senhora era fixe e tudo, não fez aquela cara de tu-tás-é-maluco-moço, o que é sempre bom...

Assim, resolvemos ficar por um desses estábulos, ou casas abandonadas. Encontrámos uma que era mesmo perfeitinha. Estava já breu, o próximo hotel, se é que era verdade existir um, era p’rai a dez quilómetros, tinha de ser. Entrámos lá no pardieiro, era fixe. Mas fixe, fixe, era uma fogueira! Mas para isso é preciso lenha. E para isso é preciso procurá-la. Foi quando nos aventurávamos por um campito onde não se via nada que ouvimos um cota, algures, aos gritos. Ele até podia estar a dizer “Viva o Benfica”, que o que eu ouvi foi “ponham-se a andar daí meus bois, “#$%&, #$%&% da #%&!!”. Yes, sir! Meia volta, volver, pegar nas malas e andar. Mas andámos pouco. É que não havia mesmo nada...

Por isso mesmo, voltámos à casita, o João deixou lá a mala, e fomos à lojita comprar qualquer cena. Ou íamos. Não chegámos a ir porque apareceu a polícia. O cota chamou-os, de certeza. Eles inglês não falavam, nós croata tampouco, e por isso andámos ali a dançar p’rai meia hora para eles perceberem que éramos portugueses (sendo que tinham já os nossos passaportes na mão), que andávamos à boleia e... outras cenitas que um gajo não facilitou. Encostamo-nos à falta de comunicação para não dizer já tudo. Só que tivemos de dizer que tínhamos estado naquele casebre porque eles disseram “siga para a esquadra!” e a mochila do João estava na casa. “Ai é que ele tem problemas nas costas e teve de a deixar num sítio seguro e não sei quê”.

Quando chegámos tivemos de esperar p’rai meia hora para que chegasse um intérprete. Via-se que o gajo se sentia bem em ser o erudito ali. Era tipo um robô. O polícia perguntava, e o gajo traduzia. Iá eu sei, é isso que um tradutor faz... nem sei se ele era polícia, ou amigo do primo do outro.

Explicámos a nossa estória, não mentimos em nada. Só omitimos a razão pela qual a mochila do João estava na casa – porque lhe doíam as costas, não porque lá íamos dormir! E tivemos de deixar impressões digitais, da palma das mãos, fotografias e essas palhaçadas todas. Foi desnecessário, digam o que disserem, mas enfim...

No final deixaram-nos na estação de comboio, eram p’rai onze da noite. Comboio à uma e meia. Não comprámos o bilhete para Belgrado. É que eu sabia que aquilo ia fechar, e asism se um gajo entrasse sem bilhete podia sempre dizer “ah eu entrei agora mesmo, pá, ali naquela estação!”.

A dada altura apareceu um chico. Era mesmo chico. Algo nele mo dizia e como que se confirmou. Daquele pessoal com cara de, bem, Chico, que se planta, de pé, mesmo à tua frente, como se tu cheirasses bem. O gajo perguntou-me, em francês, a que hora era o comboio para Ljubljana. Eu levantei-me, e apontei, tocando mesmo, no horário, um cartaz p’rai do tamanho de duas pessoas, e disse que era às não sei quantas horas. O méne nem faz o esforço de olhar p’ró cartaz e pergunta-me a que horas era para Zagreb. Isto ainda durou um bocado, até que eu decidi dizer “vê tu méne, ‘tá mesmo aqui” e me sentei.

O gajo ia perguntando de onde éramos, que documentos tínhamos, para onde íamos, o que íamos fazer, se tínhamos alguns amigos em Novska (a terra onde estávamos). Pá não que eu seja paranóico, mas eu mandei ali um couro a dizer que trabalhava para o exército em Portugal, ia a uma conferência em Belgrado e o meu outro amigo, o Ricardo que é polícia em Portugal, vinha ter connosco dali a nada. Cenas. Depois o gajo começou a perguntar por droga. Disse que não mandava drogas, porque estava no exército e assim, e o gajo a dizer para eu ligar ao Ricardo, o polícia, para ele trazer. “Mas ele é polícia méne!”. Estava com um ambiente meio tenso, e tive mesmo de lhe dizer, firmemente “Méne, eu não lhe vou ligar, pára de perguntar”. Enfim. No final correu tudo bem, e o parente, depois de ter pedido dinheiro e outras cenas que não vale a pena contar, lá debandou.

Seguimos para Belgrado, onde apanhámos um polícia fronteiriço atrasado mental (“Passport!!”, gritava, enquanto o João lhe tentava dizer que tinha encontrado uma carteira, e enquanto o seu colega, nas suas costas, fazia aquele sinal com o dedo indicador de demência) e um pica dos finos, que aceitou os nossos dólares direitinhos para o seu bolso...

Costas de Cavalo ao vivo

Horseback - The Invisible Mountain from (((unartig))) on Vimeo.

Pritzker 2011: Souto Moura

Casa do Cinema Manoel de Oliveira, Porto Duas casas unifamiliares, Ponte de Lima Estádio Municipal, Braga Centro da Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança


Artwork '11

Ainda é cedo para se falar de tops de discos, mas com o trimestre a acabar não tenho reparado em álbuns cujas capas sejam realmente boas. Diria até que alguns me desiludiram imenso e lembro-me de P.J. Harvey, OvO ou Ulver que esperava bem mais. Que artworks destacam até agora?

28 março, 2011

Por um mundo melhor

Cultura é sinónimo de civilização, sinónimo de evolução. Os escandinavos sabem disso. Enquanto que por aqui se corta no já insignificante orçamento, na Dinamarca e na Suécia são distribuídos apoios para que obras de arte nasçam. Como esta.Hævnen, de Susanne Bier, é um filme muito interessante. A fotografia impressiona, os actores surpreendem (Mikael Persbrandt está sublime) e o argumento é muito mais que um exercício de suspense. Levanta questões complexas dos nossos dias, passeia no limbo entre o que é ou não justo fazendo constantemente, às vezes de forma exagerada, um paralelo metafórico entre a realidade dinamarquesa e africana, mas que tem no seu centro a questão da nossa responsabilidade como cidadãos. Vale todo o reconhecimento que está a ter.

Sintam-se avisados!

A literatura é um talvez um dos tipos de arte que mais nos recompensa assim que digerimos um livro. No entanto, a literatura é, por muitos de nós, relegada para um terceiro ou quarto plano, em detrimento de um disco ou um filme. E porquê? Talvez por ser algo que nos exija mais, mais tempo e mais concentração.
Não vou ser hipócrita, apesar de me interessar por literatura é muito mais fácil para mim falar sobre o Abbey Road, o The Dark Side Of The Moon, o A Love Supreme, o Kid A ou o Unknown Pleasures, assim como do Le Mepris, do 2001: A Space Odyssey, do Smultronstället, doou do Zerkalo.
As artes interessam-me e os clássicos também. No entanto, admito que nunca li nenhum Dostoyevsky, Shakespeare, Joyce, Baudelaire, Mann ou Tolstoy.
Sendo assim, o meu escritor de eleição pode parecer-vos uma escolha nada óbvia ou até duvidosa.
Falo-vos de Chuck Palahniuk,um autor contemporâneo, que escreve obras como ninguém.
Os seus personagens são sempre transgressores, desiquilibrados, neuróticos e viciados, são pessoas que vivem á margem, muitas vezes tornando-se quase caricaturas, de tão extremos e vincados que são. O mundo em que vivem é um mundo sempre desencantado e teimam em dançar no abismo.
Apenas conheço os primeiros 5 livros de Palahniuk, todos traduzidos em português e facilmente encontrados nas grandes cadeias de livros. Os seus títulos são:
Fight Club - será mesmo preciso dizer alguma coisa sobre este? É o livro que inspirou um dos filmes das nossas vidas. Um personagem (nunca lhe sabemos o nome), luta contra a insónia e conhece Tyler Durden (personagem mais fixe de sempre) e com ele cria um clube insólito de porrada como terapia de choque. As coisas tornam-se demasiado sérias e acabam por implodir.
Survivor - Tender Branson está no cockpit de um avião e decide contar-nos a sua história, que ficará gravada nas caixas negras. É um dos poucos sobreviventes de um culto religioso que cometeu suicídio em massa dez anos antes e a guiar-nos-á por uma das histórias mais delirantes de sempre. O filme foi cancelado assim devido ás semelhanças com o 11 de Setembro.
Invisible Monsters - Este foi rejeitado por ser demasiado doentio e só foi editado após o sucesso de Fight Club. Conta-nos a história de uma mulher desfigurada e de Brandy Alexander, a transexual que a acompanha. É um livro sobre o mundo da moda e da superficialidade da sociedade de consumo.
Choke - também já foi transposto para a grande tela e conta-nos a história de Victor Mancini, um homem que para ter dinheiro para cuidar da mãe doente, vai a restaurantes e simula que se engasga usando as pessoas que o ajudam para o suportarem monetáriamente. Esta história entra por caminhos de conspirações e até o pénis de um famoso entra na história.
Lullaby - Este foi o primeiro a entrar pelos caminhos do terror e do sobrenatural e marca uma certa viragem na literatura do autor. Seguimos Carl Streator um jornalista que segue casos de morte súbita em crianças, sendo que o seu filho também faleceu dessa maneira. Contudo, pode haver uma explicação para todos esses casos...

Palahniuk é niilista até dizer chega, é original quanto baste e as suas histórias são completamente alucinantes. A juntar a tudo isto temos a sua escrita que foi considerada pós-moderna ou minimalista e é rápida, destrutiva e pungente, como podem perceber ao verem o Fight Club.
Esta é a minha contribuição para a divulgação da literatura, agora ler Palahniuk é convosco...

Já agora, que clássicos recomendam?

26 março, 2011

Fat Cardoso



Vou fazer 40 anos e, ao contrário do que alguém me disse há dias, não sou da opinião que a vida começa realmente aos 40.

Os 40 são a idade mais tonta que existe. Não é carne nem peixe. Já somos suficiente velhos para ouvir o clássico "já não tens idade para isso" e ainda somos suficientemente jovens para que o facto de nos ajudarem a atravessar a rua não seja considerado uma boa acção.

Há dias comprei um baixo electrico (que já não tocava há uns 20 anos). Lá em casa passou a ser um assunto tabu. Não comentei com os meus pais que o tinha comprado, mas o meu pai já o viu e ... não comentou. Sei que já foi assunto em casa deles mas ainda não me confrontou com qualquer frase do tipo "vê lá o que andas a fazer com a tua vida... tens 2 filhas e já não tens idade para isso". Não vou ser eu que vou tocar no assunto. Por agora estamos bem assim. Pode ser que seja o inicio das crises de meia idade... talvez.

Aos 40 começam a surgir os problemas que nos acompanham para a vida. De há uns tempos para cá tenho andado irritado com um ranger na madeira das escadas em minha casa. Há dias descobri que o ruido não tem nada a ver com a madeira, mas sim com um problema que tenho nas articulações do joelho direito. Não doi mas é chato e irrita. A Sofia e as miudas acham piada... eu não. Resposta do médico. "Não há nada a fazer. Vai ter que se habituar a viver com isso.". Acompanhado da lengalenga do costume sobre o colestrol e o estar "ligeiramente obeso".

Obeso... pois... Um destes dias deu num qualquer canal de TV um concerto da Celine Dion em Las Vegas. Dei comigo a pensar no que se estava a passar comigo para estar a ver um concerto de Celine Dion. Vejo aquilo com o mesmo interesse que via filmes policiais americanos de série B dobrados em turco no canal Show TV. A unica afinidade que tenho com Celine Dion é a de partilharmos a mesma data de aniversário.
Mas vi... e até ao fim.
Por mero acaso, uns dias antes, estive a ver um video de um concerto de Elvis em Las Vegas. O Fat Elvis, Elvis total e no seu melhor, no início do periodo decadente dos últimos anos em Las Vegas. Creio que o video é o "That's the way it is".

Aqui está o cerne da questão. A minha luta entre ser gordo ou magro é uma não questão que está resolvida à partida pelos exemplos. Não há motivação para emagrecer. Elvis vs Fat Elvis, Callas vs Fat Callas, DiCaprio vs Fat DiCaprio, Frank Black, Maradona... os exemplos de gente que já esteve dos dois lados são incontáveis. Celine Dion, essa, lá está, nunca teve fase gorda...
A vantagem está claramente do lado dos obesos.

Vou fazer 40 e provavelmente a única coisa que vou continuar a ter em comum com Celine Dion vai ser a data do aniversário.

Fat Cardoso

25 março, 2011

Algures ao som de nenhures

Mesmo considerando sexy o som do motor dum Ferrari 360 Modena, conduzir sem ouvir música, tal e qual Johnny Marco, é algo que me é inimaginável. Preferia não ter um pneu e andar com o semieixo a roçar no chão do que o auto-rádio avariado.
Vocês costumam ouvir música no carro? Têm alguma preferência estilística? Vamos mais longe: top 3 para se ouvir a 120 e top 3 para se ouvir no farol de Leça à noite?

Algures só para mulheres

Caríssimas leitoras, isto não é novo e não há-de ficar por aqui, mas não me incomodando eu com rabos e seios que apareçam no grande ecrã, só com este filme pensei: cada vez que vocês vão ao cinema são raras as vezes que não são obrigadas a levarem constantemente com a perspectiva heterosexual do homem. Estão acomodadas, gostam, ou dão tão por garantido que já nem vos incomoda?

Algures

O fim é um novo começo. É assim em todos os filmes de Sofia Coppola. As irmãs Lisbon saiem da sua prisão através do suicídio; o Bob, com a ajuda de Charlotte, deixa Tóquio preparado para aceitar a sua vida; a Marie Antoinette, apesar de tarde, estava decidida a viver de uma forma mais simples; e agora, no melancólico Somewhere, Johnny Marco, tal como a personagem de Bill Murray em Lost in Translation, deixa para trás o vazio que era sua vida.

A comparação não acontece por acaso, as semelhanças entre ambos os filmes, desde o argumento à estética, são óbvias. Poderá Sofia ter optado, depois do desastre comercial de Antoinette, não sair da sua linha de conforto e repetir a fórmula do trabalho que lhe deu reconhecimento? Mas não, não me interessa compreender os seus objectivos e interpretações embora não possa deixar de confessar uma perversa admiração e aconchego por todo aquele inofensivo ambiente.

Transporta, como ninguém e de forma suave, essa melancolia para a tela. Os longos planos introspectivos que nunca me parecem adulterados, os minúsculos momentos de ressonância visual, a falta de estimulação narrativa (elogio), o simbolismo – desde Gandhi ao eco oposto das cenas inicias e finais, o casting, boas escolhas sonoras…

A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito.

Julgando pelas reacções das pessoas que se sentavam à minha volta, é provável que a generalidade não vá gostar. E são válidas, claro, mas se não encararmos o filme como espectadores de mente aberta, activos e de espírito crítico, a ida ao cinema é tão sem sentido como a vida da personagem.

É um filme minimalista, ao seu próprio jeito, e modernista que abraça o realismo, e/ ou vice-versa, de forma poética. É isso, é um poema. Porque não?

Amplificasom agencia RENE HELL no Porto

24 março, 2011

Moonspell, a levar bem longe o nome de Portugal



Abrimaal, a Internet saúda-te.

Mono e a tragédia japonesa

Taka, you were in Japan at the time of the earthquake and tsunami, what was your greatest fear??
Yes, I was in Tokyo. It was a very heavy one. During the quake, I was thinking about how this is something that humans have absolutely no control over. We can be prepared, but we cannot control nature. It was definitely an unbelievably scary and bad experience.

It is good to know that you and your friends and family are ok.
We are very thankful and lucky.

Here in Europe there has been much discussion about the composure of the Japanese people during the tragedy. What do you think?
I do agree. People have been very cooperative and helpful to one another here because we have to accept this tragedy as our fate. We have to think about tomorrow, not yesterday.

What do you think the topic of nuclear power? Is it really necessary?
It seems like there is more alarm in the international headlines than the Japanese news. But I really don't know which is the true story. I don't know if the Japanese government is keeping things quiet or if there is just too much fear circulating around the world. The saddest and worst thing though is that there are many people who are still hiding near the nuclear power plant. They cannot move.

What can music do in this difficult time?
I hope music can change our energy from darkness to hope.

And Mono? Do you think that your music will suffer this time?
I really do not know but I hope it does not suffer. I feel like people turn to music when times are difficult so I hope they can find some peace in our songs. Our music always has both sides, dark and light, like a coin.

Entrevista na zine Ilcibida.
Foto do nosso concerto em Serralves por Jorge Silva.

23 março, 2011

A todos os que festejam a demissão de Sócrates

Preparem-se pois o que lhe sucederá será muito, muito pior.

Estúdio de bolso

Pois é, sou um feliz (e satistfeito) dono de um ipad. "Então mas isso não é tipo um portátil?" Não. "Isso não é tipo um leitor de mp3"? Não. "É tipo uma consola de jogos, ereader, dispositivo de acesso rápido à internet?". Não, isto é tudo isso e muito mais. A apple acertou em cheio neste ferrolho, porque muito em breve deixaremos de ver aí as pessoas a carregar as suas mochilas com os portáteis e a sacar do bolso de trás um ipad para fazer tudo e mais alguma coisa. "Mas isso não tem usb", ok, esta só mesmo quem tiver um ipad sabe como pouca ou nenhuma falta faz o usb. "Ah, não há nada como pegar no papel de um livro ou de um jornal..." Sim sim, chorem rios de nostalgia enquanto eu domino a awesomeness de um Garage Band ou acedo à fabulosa aplicação do Expresso, ao mesmo tempo que consulto o meu mail e controlo há quanto tempo está o assado no forno.

Isto vai acabar por substituir os livros da mesma forma que o mp3 substitui os cds, os cds o vinil, etc. Quem gosta de ler um bom livro, vai continuar a comprar como eu ainda os compro, assim como compro cds. Mas confesso que estou rendido a tudo o que o ipad me deixa fazer. Como este pequeno jingle que me faz lembrar o Karate Kid (imaginem no primeiro filme a parte em que ele está na praia a treinar o golpe do ganso em cima dos toros de madeira, e assim que chegar à segunda parte da música é quando ele consegue efetuar esse move com sucesso)

22 março, 2011

Sugestão de exposições

Inaugurou este sábado, no Centro Português de Fotografia, uma exposição de GMB Akash, fotógrafo natural do Bangladesh, que apresenta aqui uma série de fotografias sob o título Survivors que o próprio resume assim: "demonstra a invencibilidade da determinação humana para lutar e sobreviver contra todas as adversidades". É um trabalho de fotojornalismo tocante da autoria daquele que foi o vencedor do World Press Photo de 2006 e engloba fotografias de várias reportagens dele, como por exemplo "Nothing to hold on to", "Born To Work", "Lonely Home in Nepal", entre outras.




Também no CPF, no piso de cima, a Inês d'Orey tem em exposição uma nova série de fotos do seu trabalho "Porto Interior". 
Acho que as fotos deste trabalho dela possuem sempre uma certa aura inquietante, talvez devido à familiaridade dos mesmos que aqui aparecem sempre absolutamente desprovidos de presença humana.




Como última sugestão, deixo aqui o conselho para uma visita à Galeria Presença em Miguel Bombarda onde está uma exposição de Alexandre Farto. A primeira vez que vi um trabalho dele foi numa visita à Fábrica Social e achei muito interessante a sua técnica de grafitti por subtracção, isto é, ao invés de usar tinta, ele pica a parede para criar a imagem desejada. Aqui, nesta exposição, além de um exemplo desse género, ele estendeu a técnica ao papel onde várias camadas sobrepostas são rasgadas com vista a obter o mesmo efeito que mencionei acima.






Roster Amplificasom

Pois é, caros leitores assíduos ou não tão assíduos porque de manhã a net costuma falhar e entre ir ao wc comunicar com o sr. poia, ler o jornal e ir para o trabalho não dá tempo para ir à interweb e no trabalho também têm os sites bloqueados por segurança interna e o tempo que têm ao almoço é tão exíguo que só quando chegam a casa, mas depois chegam tão cansados que até se olvidam de passar por aqui diariamente..., a todos vocês, a Amplificasom orgulha-se de acrescentar ao seu booking estas duas grandes bandas deste pequeno lugarejo chamado Portugal.


EAK




Löbo
Agora já sabem, quando quiserem estes belos exemplares masculinos nas vossas festas privadas e romarias, é fazer o favor de contatar eduardo@amplificasom.com.

Crescer a pulso


Estava aqui a ver o programa "30 minutos" da RTP, e a primeira reportagem era sobre o Rui Nabeiros, esse tycoon do café Delta. Há algo de enternecedor sempre que vemos estas histórias de pessoas que nascem sem nada e criam um império. Balzac disse "atrás de uma grande fortuna há sempre um grande crime", mas não quero ir por aí. O que me saltou mais à vista neste pequeno documentário foi a de que hoje as grandes empresas em Portugal parecem geridas por sucessão, bem ao jeito das monarquias. Onde estão os casos de empreendorismo verdadeiramente democrático, nesta perspetiva romantico-americana, das últimas duas gerações? Parece que há um sentimento de asfixia no mercado, onde estas grandes empresas acabam sempre por engolir as mais pequenas, e onde todas as teorias (da conspiração ou não) de que o poder está mesmo nas mãos de uns poucos ganham muito mais sentido. Será esta a verdadeira essência do mercado livre? Um mercado autofágico, destinado a engolir-se a si próprio? Ou acham que ainda é possível este crescer a pulso?