22 março, 2011

Crescer a pulso


Estava aqui a ver o programa "30 minutos" da RTP, e a primeira reportagem era sobre o Rui Nabeiros, esse tycoon do café Delta. Há algo de enternecedor sempre que vemos estas histórias de pessoas que nascem sem nada e criam um império. Balzac disse "atrás de uma grande fortuna há sempre um grande crime", mas não quero ir por aí. O que me saltou mais à vista neste pequeno documentário foi a de que hoje as grandes empresas em Portugal parecem geridas por sucessão, bem ao jeito das monarquias. Onde estão os casos de empreendorismo verdadeiramente democrático, nesta perspetiva romantico-americana, das últimas duas gerações? Parece que há um sentimento de asfixia no mercado, onde estas grandes empresas acabam sempre por engolir as mais pequenas, e onde todas as teorias (da conspiração ou não) de que o poder está mesmo nas mãos de uns poucos ganham muito mais sentido. Será esta a verdadeira essência do mercado livre? Um mercado autofágico, destinado a engolir-se a si próprio? Ou acham que ainda é possível este crescer a pulso?

9 Comments:

At 23.3.11, Blogger ::Andre:: said...

De referir que o Sr. Nabeiro é também conhecido pelo seu lado humanitário. Trata bem os empregados, a comunidade onde vive, etc etc. Um exemplo, arrisco sem o conhecer, e uma excepção à citação de Balzac pois basta estarmos atentos ao que passa e sobretudo ao que se passava há umas décadas atrás para a sublinhar.

Quanto à tendência do mercado, vivemos numa época de monopolização irritante, mas poucos são aqueles cujo poder a poderiam contrariar que realmente o fazem.

 
At 25.3.11, Blogger Match Girl said...

Scometa, este post é um pouco dramático. Sim, em Portugal, ainda há muita tradição de gestão por sucessão, e ainda se integram muitos membros de familia nos negócios. Mas a verdade é que há lógica, que nas posições de decisão se coloquem os filhos, netos, etc. E até pelo conhecimento que tenho da Delta, todos os que lá estão demonstraram que tinham essa capacidade. É totalmente normal querermos integrar a nossa familia de forma a darem uma continuação ao trabalho realizado.
Mas o ambiente empresarial actualmente não se baseia só nisso. Há tanta empresas portuguesas a dar cartas em vários sectores, muitas delas consideradas PME´s, e que até trabalham maioritariamente para o estrangeiro, e não funcionam assim. Não devemos generalizar até porque há uma nova geração de empresários, muito diferente.

 
At 25.3.11, Blogger Scometa said...

Dramático para mim é saber que a riqueza de todo o mundo está em menos de 1% da sua população. Dramático é saber que são famílias e ramos de sucessão que gerem o mercado financeiro há décadas. Dramático é ver as PME's em Portugal apresentar falência atrás de falência. Eu sei que há histórias e sucesso, mas pensa que se fosse assim tão verdade nós não tinhamos um dos ratios de exportação mais baixos da UE.

Tu achas natural e até de bem essa tradição de colocar membros da família, eu acho bem só em casos em que eles realmente demonstrem essa capacidade de trabalho. Achas que é assim na maior parte dos casos? Não me parece. Depois também não sou tradicionalista nem partilho dos valores conservadores de grande parte dessas famílias, que são propulsores de exclusão e só quem já conviveu de dentro com pessoas da "alta sociedade" percebe como é quase impossível ela imiscuir-se com os outros estratos sociais.

 
At 25.3.11, Blogger Match Girl said...

Sim, concordo. É dramático mas não é nada de novo. E essa gestão do mercado ser feita por esses ramos de familia está a mudar. Era a isso que me referia. E ainda temos um dos ratios de exportação mais baixos da UE porque sempre fomos comodistas, e só agora que o mercado interno não absorve a produção porque não há poder de compra é que toda a gente acorda e quer fazer alguma coisa. É muito preocupante que a maiorira da riqueza esteja concentrada numa percentagem tão pequena de pessoas mas também não vamos crucificar as pessoas empreendedoras e que se mexem. Temos é que lutar para conseguir mais apoios e principalmente que estes sejam distribuidos de forma mais justa. E ter simplificação de alguns processos.

Não conheço a maioria dos casos por isso não posso afirmar mas o caso que falaste da Delta, até é. Concordo que há um estrato social que não deseja de todo "misturar-se" e deixar entrar qualquer pessoa mas nem toda a gente que tem dinheiro é assim. O meu problema com o teu comentário é a generalização e essa facilidade em culpar os "ricos".

 
At 26.3.11, Blogger Scometa said...

Esta minha costela comunista faz-me ser muito parcial nesse assunto, dou-te razão no último parágrafo. Não quero generalizar, e sei também e já o disse por aqui que empreendorismo é palavra cara na cabeça dos portugueses. Ricos ou não-ricos. Mas a verdade é que um rico parte sempre com a vantagem de, mesmo que seja azelha, o seu futuro estará mais ou menos assegurado. Mas lá está, o mundo é feito destes desequilibrios, falta fazer um reboot ao sistema todo.

 
At 28.3.11, Blogger Match Girl said...

Já percebi há algum tempo, que tens uma costela comunista. Mas tem cuidado que essa não seja a costela da demagogia e recalcamento. É a pior de todas.

Um rico parte sempre com vantagem, concordo, pois tem logo ajuda num dos pontos mais difícil de obter para a mairoria, que é o dinheiro para investir. E não só, em principio também esteve mais sujeito ao empreendédorismo e teve oportunidade de desenvolver ferramentas que o ajudarão a ter sucesso. Mas devemos é contrariar essa tendência empresarial em Portugal, e não colocar toda a culpa do mal que existe no mundo nas pessoas que nasceram em famílias "ricas".

E como sugerias que se fizesse reboot? Por milagre?

 
At 29.3.11, Blogger Scometa said...

Demagogia e recalcamento não são coisas que considere ter no meu vocabulário pessoal. Como reparas nessa costela comunista, também deves reparar que de demagógico não tenho nada.

Eu acho que as ferramentas com que se construiu a nossa sociedade moderna permitiram a que sim, grande parte do mal no mundo vem das familias ricas e dos seus jogos de poder.

O único reboot que pode haver é um cataclismo, já que a minha costela comunista também não me deixa acreditar em milagres. Mas estou talvez eu pior ideologicamente neste mundo do que tu, portanto acho que não temos a mesma forma de ver de como as coisas deviam mudar.

De todas as maneiras, vivo relativamente bem nesta sociedade com os meus princípios e ideologias. Mas não vivo numa sociedade de igualdades, e prefiro estar mais ahaixona purâmidedo que mais acima. No meu rabo ninguém toca.

 
At 29.3.11, Blogger Scometa said...

Estar mais abaixo na piramide*

 
At 29.3.11, Blogger Match Girl said...

Nào concordamos completamente e termos ideológicos como é claro mas principalmente na origem do problema.
Que isto está mal e que não devemos calar-nos sobre isso e deixar andar concordo plenamente. Agora penso que não é exclusivo de um grupo restricto de pessoas. O problema está essencialmente da maioria das pessoas pensar que sem dinheiro ou nome nada de pode fazer. E nem tentam. Se a maioria das pessoas de informasse sobre a forma como alguns organismos funcionam, como os sistemas funcionam não mandavam metade das postas de pescada que mandam, e teriam verdadeira noção dos seus limites. O problema é que obter essa informação não é fácil e dá trabalho por isso mais vale ficar quietinho.
E temos que reconhecer que a maioria das pessoas de tivessem mais poder não saberiam utiliza-lo ou tirariam proveito disso.

 

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